terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A oxintomodulina e o apetite

A oxintomodulina e o apetite

          Cada vez mais escuta-se falar no assunto de obesidade, e com isso se intensificaram os estudos fisiológicos para compreendê-la melhor. Diversos elementos podem contribuir com o ganho de peso, como fatores neurais, endócrinos e genéticos. Após a descoberta da leptina, muitos estudos têm sido realizados em busca de entender os sinais reguladores do apetite.

          Descrita no início dos anos 1980, a oxintomodulina é um peptídeo intestinal produzido pelas células L do intestino. Associada a outros hormônios intestinais, pode estimular ou inibir a ingestão de alimentos. Diversas pesquisas têm demonstrado seu uso como potente alvo terapêutico contra a obesidade.

          Além da importante função de sinalizar o cérebro que já existe suprimento de energia suficiente, tal peptídeo age no aumento do gasto de energia e reduzindo o consumo de alimentos.
       
          Estudos recentes demonstram que, em longo prazo, a oxintomodulina pode reduzir a ingestão alimentar e o ganho de peso. Em humanos, verificou-se que o seu uso reduz o consumo energértico em 25%. Portanto, a oxintomodulina representa uma potente terapia anti-obesidade.

Pedro Gomes

Fontes:
1. World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health: obesity and overweight. Geneva. [cited 2007 Mar 4]. Available from:<http://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/facts/obesity/en/>       
2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamento familiar (POF), 2002/2003. Rio de Janeiro. [acesso 2009 fev 2]. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>        
3. Baynes KCR, Dhillo WS, Bloom SR. Regulation of food intake by gastrointestinal hormones. Curr Opin Gastroenterol. 2006; 22(6):626-31. doi: 10.1097/01.mog.0000245537.43142.63.         
4. Halpern ZSC, Rodrigues MDB, Costa RF. Determinantes fisiológicos do controle de peso e apetite. Rev Psiq Clin. 2004; 31(4):150-3. doi: 10.1590/S0101-60832004000400002.         
5. Wynne K, Stanley S, Bloom S. The gut and regulation of body weight. J Clin Endocrinol Metab. 2004; 89(6):2576-82. doi: 10.1210/jc.2004-0189.         
6. Bataille D, Gespach C, Tatemoto K, Marie JC, Coudry AM, Rosselin G, et al. Bioactive enteroglucagon (oxyntomodulin): present knowledge on its chemical structure and its biological activities. Peptides. 1981; 2(Suppl 2): 41-4.         
7. Cohen MA, Ellis SM, Lê Roux CW, Batterham RL, Park A, Patterson M, et al. Oxyntomudulin suppesses appetite and reduces food intake in humans. J Clin Endocrinol Metab. 2003; 88(10): 4696-701. doi: 10.1210/jc.2003-030421.        
8. Pimentel GD, Mota JF, Guimaraes MP, Fioravante MA. A oxintomodulina como uma nova terapia anti-obesidade [Abstract]. Rev Bras Med. 2007; 64(Supl. 1):131.         
9. White NE, Dhillo WS, Liu YL, Small CJ, Kennett GA, Gardiner JV, et al. Co-administration of SR141716 with peptide YY3-36 or oxyntomodulin has additive effects on food intake in mice. Diabetes Obes Metabol. 2008; 10(2):167-70. doi: 10.1111/j.1463-1326.2007.00807.x.         
10. Druce MR, Minnion JS, Field BC, Patel SR, Cuenco-Shilito J, Tilby M, et al. Investigation of structureactivity relationships of oxyntomodulin using oxyntomodulin analogues. Endocrinology. 2009; 150(4):1712-22. doi: 10.1210/en.2008-0828.         
11. Parkinson JRC, Chaudhri OB, Kuo YT, Field BCT, Herlihy AH, Dhillo WS. Differential patterns of neuronal activation in the brainstem an hypothalamus following peripheral injection of GLP-1, oxyntomodulin and lithium chloride in mice detected by manganese-enhanced magnetic resonance imaging (MEMRI). Neuroimage. 2009; 44(3):1022-31. doi: 10.1016/j.neuroimage.2008. 09.047

O PYY e a Obesidade

          A obesidade é um problema de saúde que resulta no acúmulo de gordura. Podemos encontrar vários hormônios relacionados com tal doença, entre eles o PYY, secretado pelas células do intestino delgado e intestino grosso. Ele é secretado proporcionalmente à quantidade de de calorias ingeridas, diminuindo a motilidade intestinal e aumentando a saciedade. Contudo, a regulação do apetite é um fenômeno complexo que envolve outros hormônios como a leptina e a grelina.
         
          Tentando relacionar os efeitos anoréticos do PYY em indivíduos obesos, pesquisadores realizaram um estudo com 24 pessoas (sendo 12 magros e 12 obesos) infundindo tal peptídeo e cruzando o resultado com um grupo que recebeu placebo. Tanto em obesos quanto em magros, a ingestão calórica caiu cerca de 30% levando a conclusão que obesos não são resistentes aos efeitos anoréticos do PYY, sugerindo que sua deficiência pode contribuir para a patogênese da obesidade nos humanos.

Pedro Gomes

Fontes:
1. Batterham RL, Cohen MA, Ellis SM, Le Roux CW, Wihters DJ, Frost GS, et al. Inhibition of food intake in obese subjects by peptide YY. N Engl J Med 2003; 349(10):941-8.

2. Efeitos anoréticos do PYY na obesidade. Rev. Assoc. Med. Bras. 2004, vol.50, n.3, pp. 236-236. Disponível na plataforma: http://www.scielo.br/scielo.php?lng=en ;

domingo, 29 de novembro de 2015

A cirurgia bariátrica

           Muitos métodos podem ser utilizados para o tratamento da obesidade, falamos em um outro post sobre o uso de medicamentos, agora falaremos da cirurgia mais comumente feita para a perda de peso em indivíduos obesos.
           A cirurgia bariátrica pode ser dividida em quatro modalidades; o Bypass gástrico, a banda gástrica ajustável, a Gastrectomia vertical e o Duodenal Switch. Estas quatro modalidades são os métodos cirúrgicos que são permitidos fazer no Brasil para o controle de peso. Existe também o balão Intragástrico, mas este método não é considerado cirúrgico.

          Bypass gástrico: O método cirúrgico mais usado no Brasil, este pode levar a perda de 40% a 45% do peso inicial do paciente. Neste procedimento, o estômago é grampeado para que seu tamanho comporte apenas 30 a 40 ml, diminuindo grande parte da injeção alimentar. É feito também um desvio do estômago para o intestino, assim o alimento chegará mais rapidamente ao intestino. Desta forma existe uma alteração na liberação de grelina (o hormônio responsável pela sensação de fome). Assim, a entrada de alimentos (dado ao tamanho do estomago) e a sensação de fome (dada a diminuição da concentração de grelina) são diminuídas, levando a perda de peso pelo paciente.
          Banda gástrica ajustável: Neste método espera-se que o paciente perca cerca de 30% de seu peso inicial. É colocada uma espécie de cinta na porção superior do estômago, esta está conectada a um balão, que ao ser inflado diminui a capacidade de enchimento do estômago. A cinta diminui a velocidade de entrada de alimentos no estômago. Conectada à está cinta existe um dispositivo de injeção que é colocado embaixo da pele do paciente, para que possa ser controlada a quantidade de alimentos que entrarão no estômago. 
          Neste processo não há alterações nos níveis hormonais.
          Gastrectomia vertical: Este processo consiste em grampear o estômago para que ele forme um tubo. Este tubo será 80% menor do que o estômago pré-operatório. Com a incisão, o fundo do estômago será retirado, logo a produção de grelina será diminuída.
          Duodenal Switch: Está técnica é a associação da gastrectomia vertical com o desvio intestinal. Ou seja, existe o grampeamento do estômago, diminuindo assim sua capacidade. Mas há também o desvio do intestino delgado, para que o alimento saia de forma mais rápida para o intestino. Desta forma 80% do estômago é retirado, e o alimento passa mais rápido pelo intestino delgado, diminuindo assim a absorção de gordura. 
          Todos estes processos requerem muito planejamento antes de serem feitos, já que mudanças no comportamento alimentar levam a alterações fisiológicas, mas também a alterações psicológicas no indivíduo. 

Fontes:
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Disponível em:
Banda Gástrica
Disponível em:
O que é Obesidade?
http://www.cirurgiaobesidade.com.br/novosite/index.php/especialidades/cirurgia-de-obesidade/o-que-e-obesidade

Roberto Mauro Pinto Coelho Barcellos Junior

A grelina

          Para dar continuidade no assunto de hormônios que têm um comportamento diferenciado no individuo obeso, vamos falar um pouquinho sobre a grelina. Identificado em 1999 nos estômago de ratos, a grelina é o hormônio responsável pela sensação de fome. E assim como a leptina, é responsável por auxiliar no controle energético do organismo.
          A grelina é um hormônio que possui uma ação oposta a leptina, enquanto a leptina produz a sensação de saciedade, a grelina produz a sensação de fome. Indivíduos em jejum possuem grande quantidade de grelina na corrente sanguinea, enquanto que após a alimentação, estes níves diminuem.
          A grelina se liga a receptores GHS, que se situam em vários órgãos do organismo, como; pancreas, atua inibindo receptores evitando a liberação de insulina, hipotálamo e no sistema nervoso central. Esta atuação em outros órgãos é bem interessante, e nos ajudam a entender bem a função do hormônio; após uma ingestão de carboidratos, os níveis de grelina diminuem, fazendo com que ocorra menor inibição na liberação da insulina. Levando a um aumento na concentração deste hormônio que é fundamental para remover a glicose da corrente sanguinea! Incrível como nosso organismo funciona não é mesmo?
          Individuos obesos comem muito por ter grande quantidade de grelina?

          Essa pergunta que parece bem simples, na verdade é um pouco mais complexa do que parece! Estudos comparativos que identificavam os níveis do hormônio em obesos e em anoréxicos, mostraram que havia uma maior concentração de grelina em anoréxicos do que em obesos! (Exceto em algumas doenças como a sindrome de Prader Willi). Pesquisas mostram que individuos obesos tem menor quantidade de grelina circulante, mas possuem maior sensibilidade ao hormônio.


Fontes:
The role of leptin and ghrelin on the genesis of obesity
Disponivel em: 

A grelina e os paradoxos da obesidade
Disponivel em

Heppner KM, Tong J (Jul 2014). "Mechanisms in endocrinology: regulation of glucose metabolism by the ghrelin system: multiple players and multiple actions". European Journal of Endocrinology / European Federation of Endocrine Societies 

Roberto Mauro Pinto Coelho Barcellos Junior

Medicamentos para o controle da obesidade 

          Muitas formas de tratamentos são exploradas para indivíduos obesos, desde a dieta de retenção alimentar, o uso de medicamentos, até a cirurgia para perda de gordura corporal. Devemos deixar claro, que este não é um guia para qual medicamento deve ser usado em um indivíduo obeso. O foco deste post é de entendermos como funcionam os mecanismos de ação de fármacos, e como eles alteram a bioquímica do paciente. 
Existem vários medicamentos (ou preparações) no mercado, que alegam promover a perda de peso. Obviamente, para ser considerado um medicamento, a molécula deve passar por inúmeros testes, afim de ter sua eficiência, eficácia e segurança comprovadas.  
          Vários medicamentos podem ser prescritos a indivíduos obesos, como cardiotônicos, betabloqueadores, inibidores da ECA, diuréticos e vários outros. Mas vale lembrar que muitos destes medicamentos são utilizados para tratar outras complicações que podem ser originadas pela obesidade, e não a obesidade em si. Portanto é importante lembrar, que o foco deste texto é em apenas fármacos que tem o intuito de promover a perda de peso.
          As diretrizes para o tratamento farmacológico da obesidade da ABESO/SBEM (Associação Brasileira para estudos da obesidade e da síndrome metabólica) são:

  • Anfepramona: Atua no sistema nervoso central, aumentando a liberação de noradrenalina na fenda sináptica de neurônios hipotalâmicos. A estimulação destes receptores, leva a uma inibição da sensação de fome.

  • Sibutramina: É um inibidor de receptação de serotonina e noradrenalina nas fendas sinápticas de neurônios hipotalâmicos. A sibutramina vem passado por uma série de investigações relativos à sua segurança, mas recentemente teve seu uso liberado novamente para o tratamento.

  • Orlistate: Age inibindo enzimas que iriam quebrar e auxiliar na metabolização de gordura. Com a diminuição do número de enzimas, apenas 30% da gordura da dieta é metabolizada pelo organismo.


          Medicamentos como Femproporex e Mazindol também podem ser utilizados no tratamento, porém seu uso não é para o controle da obesidade em si.
          Estes medicamentos têm a função de serem utilizados para auxiliar na perda de peso, mas é importante reforçar que estes medicamentos devem ser utilizados segundo orientação médica, e juntamente com uma dieta e aumento da atividade física.

Fontes:
Atualização das Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da Obesidade e do Sobrepeso.
Posicionamento Oficial da ABESO/ SBEM - 2010
Disponível em: http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/2/5521af637d07c.pdf

Roberto Mauro Pinto Coelho Barcellos Junior


O paradoxo da leptina

          É impossível falar de obesidade sem citarmos os hormônios que estão envolvidos no processo digestivo, e todos os hormônios que sofrem alguma alteração durante o acumulo de gordura corporal. Por enquanto, falaremos apenas da leptina, um hormônio fundamental para qualquer pessoa, e que possui uma mudança muito curiosa no corpo de um individuo obeso.
          O que é a leptina? Este é um hormônio produzido principalmente pelas células do tecido adiposo branco, mas também é produzida por outros vários órgãos como a glândula mamária, músculo esquelético e a placenta. Formada por 167 aminoácidos, a leptina é conhecida como o hormônio da saciedade. Sua função no sistema nervoso central é controlar a ingestão alimentar, enviando um estimulo ao sistema nervoso central e avisando que o individuo está saciado. Ela também tem a função de aumentar o gasto energético e regula o metabolismo de glicose e de gordura.   
          A leptina possui vários receptores que estão relacionados a sua função; receptores ObRb possuem maior expressão no hipotálamo. Outro conjunto de receptor para leptina é o ObRa, encontrado no pâncreas.
          Como a leptina é produzida pelas células do tecido adiposo branco, é de fácil entendimento que quanto maior a quantidade de células adiposas, maior é a quantidade do hormônio liberado. Sendo assim, indivíduos obesos tem alta produção da leptina, que é um hormônio que gera a saciedade e aumenta o gasto energético! Mas então por que obesos comem muito e não perdem tantas calorias com tanta facilidade? Isso é explicado pelo paradoxo da leptina: Acredita-se que um acumulo rápido na concentração de leptina, pode levar a uma mudança nos receptores, fazendo com que estes se tornem menos sensíveis ao hormônio. Este mecanismo é conhecido como "down regulation" e ele faz com que seja necessária uma quantidade maior do que a normal do hormônio secretado, para que haja a mesma resposta.

          Curioso não é? nosso corpo é repleto de mecanismos de adaptação quando há uma grande quantidade de estímulos a variados tipos de receptores! Embora muitos mecanismos de adaptação ainda não sejam completamente estabelecidos, sabemos a importância deles.

Fontes:
Sandoval DA, Davis SN. Leptin: metabolic control and regulation. J Diab Compl. 2003; 17(2): 108
Considine RV, Sinha MK, Heiman ML, Kriauciunas A, Stephens TW, Nyce MR, et al. Serum immunoreactive-leptin concentrations in normal-weight and obese humans. N Engl J Med 1996;334:292-5. 

Roberto Mauro Pinto Coelho Barcellos Junior


domingo, 8 de novembro de 2015

Genética da obesidade

          
          A obesidade é uma doença crônica que sofre grande influência genética. Muitos genes podem contribuir na ocorrência dessa doença, como por exemplo os genes determinantes de fatores hormonais e neurais e de gasto energético. 
          O principal problema de obesos é a alimentação excessiva perante um gasto energético reduzido, sendo ambos os aspectos influenciados geneticamente. Essa hereditariedade tem uma carga do processo evolutivo, uma vez que, devido à escassez de alimento em determinadas épocas, os indivíduos que conseguiam armazenar mais gordura eram mais resistentes à desnutrição e assim, tinham uma maior chance de deixar descentes, tendo em vista que havia uma grande reserva energética. 
          Em um estudo realizado foi constatado que cerca de 50% a 80% dos pais obesos geravam filhos também obesos, devido a alimentação similar e fatores genéticos que podem até alterar os efeitos da atividade física sobre o peso e a composição corporal do filho. 
          Além disso, a obesidade pode estar relacionada a doenças autossômicas dominantes, recessivas e ligadas ao cromossomo X. Alguns métodos foram desenvolvidos para identificar tais genes, como: 
  • técnicas de clonação e seqüenciação de genes; 
  • hibridação de ácidos nucléicos; 
  • utilização de endonucleases; 
  • amplificação por reações em cadeia com PCR; 
  • análises de produto do gene. 
          Esses avanços permitiram a identificação de diferentes causas da doença, assim como também podem auxiliar em seu tratamento.

Luana Lima Alves e Marina Minari R. de Carvalho

Fontes:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732004000300006